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domingo, 4 de agosto de 2013

HENRIQUE, O PREGUIÇOSO - Irmãos Grimm




HENRIQUE, O PREGUIÇOSO 
 Pelos Irmãos Grimm 
de 
Contos e Lendas 
                   Era uma vez um grande preguiçoso chamado Henrique, o qual, embora não tivesse outra coisa a fazer senão levar diariamente a cabra a pastar, todavia, à noite, após terminado o dia de trabalho, se punha a suspirar: 
                    - É, na verdade, um trabalho penoso e cansativo o  meu! Todos os dias ter de levar ao pasto esta cabra, um dia, depois outro, até ao fim do outono!  Se ao menos a gente pudesse deitar-se e dormir! mas qual, é preciso manter os olhos bem abertos e ver que ela não estrague os tenros arbustos,  que não entre nalgum jardim através das cercas e também que não fuja.  Como é possível  ter um pouco de paz e gozar a vida? 
                    Um dia, sentou-se num canto, muito concentrado, e  ruminava como haveria de fazer para ficar livre daquele peso. Meditou longamente, mas em vão. De repente, porém, teve uma ideia. 
                    - Ah, já sei o que hei de fazer! - exclamou: - caso-me com a gorda Rina. Ela, também, possui uma cabra; junto com a dela poderá levar a minha, assim será desnecessário que eu continue a estafar-me. 
                    Decidido isso, Henrique levantou-se, pôs em movimento os pobres membros cansados e atravessou a rua, pois era apenas essa a distância que o separava da casa onde habitavam os pais da gorda Rina.  E pediu-lhes a mão da virtuosa e diligente filha. Os pais não perderam tempo a pensar. 
                    - Deus os fez e agora os junta! - disseram, e deram o consentimento.  
                    Assim pois, a gorda Rina tornou-se a esposa de Henrique e teve que levar ao pasto as duas cabras. 

                   Henrique folgava o dia todo e só tinha que descansar da sua preguiça. Uma vez ou outra ele dava uma chegada ao pasto, dizendo: 
                   - Faço isto só para gozar melhor o descanso; caso contrário a gente acaba por não apreciá-lo bastante. 
                    Acontece, porém, que a gorda Rina não era menos  preguiçosa que ele. E, um belo dia, disse:  
                    - Querido Henrique, para que havemos de amargurar nossa vida sem necessidade e desperdiçar os melhores anos de nossa mocidade? estas duas cabras, que com seu irritante balido nos despertam todas as manhãs no melhor do sono, não achas melhor dá-las ao nosso vizinho, em troca de uma colmeia?  Poderemos colocar a colmeia no fundo do quintal, em lugar bem ensolarado e não teremos preocupações com ela.  Não é preciso vigiar as abelhas nem levá-las a pastar; elas voam por conta própria e sozinhas encontram o caminho de volta para casa; além disso, produzem mel sem nos dar a menor amolação! 
                    - Falaste como mulher sensata, - respondeu Henrique; - acho que a tua é uma proposta que deve ser  levada a efeito imediatamente, e além disso, o mel é muito mais saboroso e nutritivo do que o leite de cabra e pode  ser conservado muito tempo. 

                    O vizinho deu de bom grado uma colmeia em troca das duas cabras. As laboriosas abelhas voaram de cá e de lá desde manhã cedo até à noite, e em pouco tempo encheram a colmeia de belíssimos favos dourados; portanto, quando chegou o outono, Henrique pode colher um pode bem cheio de mel. 
                    Resolveram guardar o pote numa trave pregada bem em cima da cama, no quarto e, com receio de que os ratos pudessem achá-lo, Rina muniu-se de uma vara de aveleira e colocou-a ao lado da cama para tê-la à mão, sem ter necessidade de levantar-se, nem ter o incômodo de sair da cama para enxotar os prováveis intrusos. 

                    O preguiçoso Henrique não gostava nunca de levantar-se antes do meio-dia e costumava dizer: 
                     - Quem levanta cedo, desperdiça o que é bom. 
                     Uma bela manhã, quando o dia já estava bem claro e ele ainda repousava nas fofas plumas, descansando do longo sono, ocorreu-lhe dizer á mulher: 
                    - As mulheres gostam do que é doce e tu vives  lambiscando o mel; antes que acabes com ele, tu sozinha, é melhor vendê-lo e comprar uma gansa com um gancinho. 
                    - Mas não antes que tenhamos um filho para tomar conta deles! - disse a mulher. - Achas, por acaso, que devo aborrecer-me com os gancinhos e despender  inutilmente minhas forças com eles? 
                    - E tu achas que o menino cuidaria dos gansos? - retorquiu Henrique. - Hoje em dia, os filhos já não obedecem a ninguém, só fazem o que lhes dá na veneta porque se julgam mais sabidos do que os pais; Justamente como aquele criado que foi procurar a vaca tresmalhada e pôs-se a correr atrás dos melros. 
                   - Oh. - respondeu Rina, - pobre dele se não fizer o que eu mandar! Pegarei num pau e lhe curtirei a pele com pancada! Olha, Henrique, - gritou ela exaltada, e pegou a vara que trouxera para enxotar os ratos; - Olha como lhe hei de bater! 
                   Assim dizendo, ergueu o braço para sacudir a vara, mas, infelizmente, bateu no pote de mel que estava em cima da trave; o pote bateu na parede e, caindo, despedaçou-se. O delicioso mel esparramou-se todo pelo chão. 

                  - Lá se foram a gansa e o gancinho, - disse Henrique, - agora não mais teremos de cuidar deles. Sorte que o pote não me caiu na cabeça: temos mesmo de nos regozijar com isso! 
                   E, vendo um pouco de mel num caco de pote, Henrique estendeu a mão, apanhou-o e disse muito contente: 
                   - Aproveitemos este restinho, mulher; depois descansaremos um pouco deste grande susto que levamos. Que importa se nos levantarmos um pouco mais tarde do que de costume? O dia é sempre bastante comprido! 
                   - Sim, - respondeu Rina, - e chegaremos sempre a tempo. sabes, uma vez a lesma foi convidada a um casamento, ela pôs-se a caminho mas só chegou  no dia do batizado. Ao chegar diante da casa, sucedeu-lhe porem cair da cerca, e então exclamou: 
                   - Maldita a minha pressa! 

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